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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Universidade do desastre (14abr2011)

Postagem de 13 de abril de 2011 no sítio Brasil de Fato.

Por Silvio Mieli

Ele previu os ataques de 11 de setembro, alertou que o acidente de Chernobyl iria se repetir, chama Barak Obama de “Top model do discurso politico” e define a internet como um instrumento de controle social. Acusado de pessimista, apocalíptico e retrógrado, o filósofo e arquiteto francês Paul Virilio não é um profeta, já que não anuncia desígnios divinos, nem prediz acontecimentos por dedução ou intuição. Quase octogenário, sua missão urgente é a de revelar os acidentes da tecnologia para entender o outro lado do progresso.

A militarização do cotidiano, a prevalência do tempo sobre o espaço, as consequências das tecnologias ditas interativas e um poder cada vez mais baseado na imagem são alguns dos temas caros a este pensador fundamental. Segundo ele, deixamos de nos agregar em torno de uma “sociedade de opinião”, transformando-nos numa “sociedade da emoção”. Considera assustador o mundo inteiro suspirar diante da mesma imagem em tempo real, ainda que seja a do tsunami do Japão.

Virilio define-se um dromólogo: estudioso da velocidade (do grego dromos, corrida) e da aceleração da técnica contemporânea. Para ele, ao lado da desigualdade social surge a necessidade de se compreender a violência baseada no excesso de velocidade. Considera a riqueza como a face oculta da velocidade e a velocidade como a outra dimensão da riqueza. “A velocidade é tão importante quanto a riqueza na fundação do político. Se tempo é dinheiro, a velocidade é poder”, conclui.

Virilio não acredita no fim do mundo. Acha, ao contrário, que iremos inventar um pensamento universal e até mesmo um novo modelo de universidade, responsável pelo estudo do desempenho do progresso. Assim como a ideia de universidade nasceu a partir da barbárie e das catástrofes dos sécs. 11 e 12, encontramo-nos agora diante de uma crise ecológica e econômica sem precedentes. Portanto temos que desenvolver um novo modelo universal para lidar com essa situação, em torno de uma espécie de “Universidade do Desastre”, conforme define seu projeto.

Fica uma lição prática, clara e direta da pedagogia de Paul Virilio ao Brasil de hoje. Antes que vingue algum projeto para implantar a obrigatoriedade do ensino de “educação financeira” para os níveis fundamental e médio, chegou a hora de concentrar esforços por uma educação para a mídia e a tecnologia. Até para prevenirmos futuros desastres.

Silvio Mieli é jornalista e professor universitário.

Publicado originalmente na edição 423 do Brasil de Fato

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